Infância e juventude
Ernst Carl Glufke, chamado de CARL,
nasceu a 13 de março de 1878, em Brokau, arredores de Breslau, na Silésia,
Alemanha. Era filho de Gottfried Glufke, nascido em Qualwitz, Kreis Ohlau, e de
Rosina Tinzmann Glufke, nascida em Beckern, Kreis Ohlau, na Alemanha. Também
estas localidades situam-se nas proximidades de Breslau.
Elise Henriette Marie Böttger Glufke,
chamada ELISE, nasceu em 28 de janeiro de 1881, em Quedlinburg, na Saxônia,
Alemanha. Era filha de Elise Böttger.
Pouco se sabe sobre a infância e a
juventude de Carl e Elise.
Aos 2 anos de idade, Carl perdeu a
mãe; o pai faleceu quando Carl tinha 8 anos.
Carl foi criado por um tio. Quando
menino, pensava que a vida na casa do tio era difícil e que este o maltratava,
opinião que mudou ao chegar a idade adulta. Aos 14 anos, fugiu de casa e foi
para Hamburgo. Lá queria embarcar em algum navio com destino à América. Como
não tinha dinheiro para a passagem, pretendia trabalhar no navio durante a
travessia.
Enquanto aguardava, irrompeu em
Hamburgo uma epidemia de cólera. A cidade ficou em quarentena, não se
permitindo a ninguém entrar ou sair dela. A epidemia foi muito intensa e havia
poucos recursos para enfrentá-la. Em conseqüência, muitas pessoas morreram às
vezes em plena rua. Para sobreviver, Carl juntou-se aos que recolhiam mortos
nas casas e nas ruas. Quando nesse trabalho, teve a sorte de ser visto por um
carpinteiro que, por achar a atividade inadequada para um rapazinho, o acolheu
em sua casa. Carl ficou morando com a família desse senhor, tornou-se aprendiz
de carpinteiro e desistiu da América.
Nessa época, na Alemanha, aprender um
ofício incluía uma etapa de aprendizagem intensiva (chamada Lehrzeit), sob
orientação de um mestre de ofício, e geralmente no local de trabalho deste. O
jovem era chamado Lehrling (aprendiz) e ao final da etapa deveria se submeter a
certas provas. Se aprovado, o aprendiz passava a uma etapa de “aperfeiçoamento”
e era chamado de Geselle (oficial). A parte final desta etapa incluía a
Wanderzeit, período em que o jovem tinha de ir para outras localidades,
conseguir trabalhos temporários nas mesmas, e, assim, provar sua competência. O
jovem só podia se submeter às provas finais de sua aprendizagem, para se tornar
mestre de ofício, depois de cumprir essa exigência.
Foi quando cumpria sua Wanderzeit que
Carl chegou a Dittfurt e conheceu Elise. Ao que se sabe, não completou a tarefa,
não chegou a mestre e, tempos depois, tornou-se vendedor de máquinas de costura
Singer.
Elise foi registrada só com o
sobrenome da mãe (Böttger); não se tem informações quanto ao nome do pai. Seus
pais eram noivos quando ele sofreu um acidente: caiu do “Heuwagen” e morreu.
Deixou Elise (mãe) grávida. Ela, posteriormente, casou com Andréas Blath, com o
qual teve dezoito filhos, entre eles quatro pares de gêmeos. A maioria desses
filhos morreu nos primeiros meses de vida, inclusive todos os gêmeos. Chegaram
à idade adulta: Marie, Minna, Frieda e Luise.
Elise passou parte da infância e da adolescência em casa dos avós maternos. Ela contava que o avô e o padrasto, que considerava como pai (há referências a ela como Elise Blath) , eram muito severos. Por essa razão e devido às condições módicas de vida da família, a juventude de Elise não foi muito alegre. O fato mais importante da semana era o culto evangélico aos domingos. Já idosa Elise era capaz de lembrar textos bíblicos comumente citados em datas específicas do calendário religioso.
Em relação à avó materna de Elise –
chamada Henriette Maurer Hoebbel – um fato merece ser lembrado, por ser incomum
e totalmente estranho para nós, cidadãos do final do século 20: ela foi
vivandeira (Mulher que vende mantimentos, ou os leva, acompanhando tropas em
marcha) na guerra de 1870, da Alemanha contra a França.
A família de Carl e Elise na Alemanha
Carl e Elise casaram em
Ditfurt-Quedlinburg, no dia 10 de novembro de 1898.
Foram morar em Tangermünde, onde
nasceram os filhos Erna (1899), Waldemar (1900) e Frida (1902).
Na Alemanha daquele tempo já era
difícil alugar moradia para uma família numerosa, sem casa própria. Era o caso
dos Glufke – o casal e seus filhos, cujo número aumentava rapidamente. Além
disso, havia dificuldades financeiras, pois Carl não tinha profissão definida;
sustentava a família como vendedor de máquinas Singer.
Como intuito de contribuir para o
sustento da família, Elise cursou o Königliche Hebammen Schule (Escola Real de
Formação de Parteiras), em Magdeburg, na Saxônia. Formou-se em 1901, passando a
exercer a profissão de parteira. Esse fato evidência a determinação de Elise e
sua coragem para resolver problemas, baseada em uma decisão bastante “avançada”
para os padrões da época.
Em abril de 1903, a família
se transferiu para Quedlinburg, por pouco tempo, pois em agosto do mesmo ano
foi morar em Hoym; nesta localidade nasceu o filho Alfred (1904). Em abril de
1905, os Glufke voltaram a morar em Quedlinburg, onde nasceu a filha Herta
(1907). Pouco depois, fizeram nova mudança, desta vez para Süderode.
Essas localidades – Quedlinburg,
Hoym, Süderode – são muito próximas umas das outras. Um pouco mais afastada é
Magdeburg, mas ainda próxima. Por isso, as freqüentes mudanças de residência
não envolviam mudança significativa de vida.
No entanto, uma grande mudança estava
por acontecer, pois foi em Süderode que os problemas enfrentados pela família e
a perspectiva de um futuro melhor para os filhos levaram o casal Carl-Elise à
decisão de emigrar. Destino: Brasil, mais precisamente Ijuí, no Estado do Rio
Grande do Sul.
Vista à distância do tempo e do lugar
em que foi tomada, essa decisão sugere duas perguntas? Por que emigrar? Por que
o Brasil?
Evidentemente, há outros motivos para
emigrar, como razões políticas ou religiosas, especialmente se consideradas as
perseguições que, quase sempre, acompanham períodos de fanatismo de um ou de
outro tipo. No caso dos Glufke, foram razões econômicas as que determinaram a
decisão. Eles eram pobres – o que não deve ser confundido com miséria – e não
tinham condições de adquirir casa própria quando até alugar era difícil para
famílias numerosas. Os ofícios que Carl e Elise exerciam também não lhes
proporcionavam perspectivas melhores para o futuro.
E por que o Brasil?
Quando a idéia de dar um novo rumo
aos destinos da família surgiu, Carl e Elise pensaram, inicialmente, em ir para
Camarões, na África, na época um protetorado alemão. Estavam ainda na fase de
amadurecimento da idéia quando souberam que se procuravam pessoas interessadas
em migrar para o Brasil. Ofereciam-se viagem gratuita para a família e 25
hectares de terra para o plantio, em zona de colonização; a terra deveria
ser paga posteriormente. Na Alemanha de então – e para muitos alemães da
atualidade – 25 hectares significavam uma extensão enorme de terra,
algo como ser proprietário de um condado. Naturalmente, ninguém tinha uma noção
muito clara do que significava “terra em zona de colonização”. É válido
perguntar também: Que imagem trazia às mentes do casal Glufke a palavra “wald”
(mato, floresta, bosque)? Os bosques de sua terra natal certamente pouco tinham
em comum com o mato que iriam encontrar no Brasil.
Com idéias pouco exatas, mas com
muita coragem e esperança, os Glufke empreenderam a viagem.
Da Alemanha para o Brasil
A grande viagem começou no dia 15 de
setembro de 1909, conforme registrou Carl na Bíblia familiar.
Os Glufke partiram de Ditfurt, onde
morava a família de Elise, para Rotterdam, na Holanda. A passagem pela Holanda
e o embarque em Rotterdam se justificavam por vigorar na Alemanha, então, uma
lei que dificultava a emigração.
Caixas e caixotes foram despachados
até o trem e dele para o navio. A bagagem pessoal não era grande e foi
transportada da casa da família de Elise até a estação ferroviária em carrinho
puxado por um cão são-bernardo. Além disso, cada uma das crianças maiores
carregava uma mochila às costas; consta que na Alfred estavam travesseiro e o
penico de Herta.
Em Rotterdam, os Glufke embarcaram no
navio “Amstelland” – antigo e sem conforto – para a grande travessia. A viagem
transcorreu normalmente. No entanto, como a família viajou na terceira classe,
não é difícil imaginar a qualidade da alimentação, bem como o desconforto
causado por más condições de ventilação e por instalações sanitárias muito
deficientes. Além disso, é provável que o navio balançasse muito, pois os
navios da época eram pequenos e não tinham estabilizadores.
Certamente enfrentando problemas e
depois de semanas de viagem, a família Glufke chegou ao Rio de Janeiro, no dia
11 de outubro de 1909.
De acordo com o registro do
“Escriptorio de Immigração” da “Directoria Geral do Serviço de Povoamento”, que
funcionava na cidade do Rio de Janeiro, a saúde dos passageiros do “paquete
hollandez” foi boa durante a travessia, não tendo havido mortalidade e tendo
ocorrido um nascimento. Na lista dos “578 immigrantes” que viajaram no
“Amstelland”, a família Glufke está registrada sob os números 186 a 192.
No registro constam os nomes de todos, a indicação de que Carl é o chefe da
família e o parentesco dos demais em relação a ele (esposa, filhos), idade,
sexo, estado civil, nacionalidade, profissão (Carl consta como agricultor),
religião (protestante) e instrução (se sabem ler e escrever). Quanto às idades,
é interessante destacar: Carl – 34 anos; Elise – 28 anos; Erna – 10 anos;
Waldemar – 9 anos; Frieda – 7 anos; Alfred – 5 anos; Herta – 2 anos. Em
relação ao casal e aos filhos Erna, Waldemar e Frieda foi registrado que sabem
ler e escrever.
Como era de praxe, os Glufke
tiveram de cumprir as formalidades na Ilha das Flores, o que incluía a
verificação de condições de saúde.
No “Registro de entrada de
immigrantes” da “hospedaria de Immigrantes da Ilha das Flores”, a família
Glufke consta nos números 282 a 288. A data de entrada é 11 de
outubro de 1909 e a saída é 17 de outubro de 1909. O registro incluí nomes,
estado civil, nacionalidade e profissão. Está registrado também o nome do navio
em que vieram – “Amstelland” – bem como o destino da família: Porto Alegre. Não
há registro do navio que os levou até o Rio Grande do Sul.
Os Glufke embarcaram em um vapor
costeiro, considerado de grande luxo se comparado ao “Amstelland”, para
viajarem até o Rio Grande do Sul.
Um fato relativo à viagem do Rio de
Janeiro a Rio Grande era sempre lembrado pela Elise: Herta, então com apenas 2
anos de idade, resolveu apelidar o cozinheiro do navio, que era negro, de
Bolo-Bolo. O cozinheiro deu interpretação diferente às expressões da menina e,
por isso, lhe trazia fatias de bolo ou bolachas, dando força ao apelido.
De Rio Grande, a família viajou de
trem até Cruz Alta, fazendo várias baldeações, e de carro de bois até Ijuí, que
era apenas um povoado. Ali, foi necessário abrir caixas e caixotes para
acomodar a bagagem no lombo de mulas, pois havia apenas uma picada ligando a
sede do município à linha 23 Leste, destino final da grande viagem, que
terminou no dia 28 de outubro de 1909, segundo registro de Carl e Elise em
Bíblia da família.
Ijuí/RS
No caso do Brasil, ao contrário do
que conta a história oficial, a maioria dos imigrantes não recebeu auxílio
algum, ou muito pouco, do “País que os acolhia”; as famílias eram largadas,
literalmente, “no mato sem cachorro”.
Com os Glufke também foi assim.
Quando chegaram à “terra prometida” só encontraram mato – um local quase
desabitado, sem recursos. A primeiroa rovidência foi construir um abrigo.
Enquanto ele era construído, Elise e as crianças permaneceram na “vila”. Os conhecimentos
de carpintaria, apesar de sua limitada experiência, foram de grande valia para
Carl neste momento. Baseado neles e com material de que dispunha – galhos de
árvores, folhas de palmeira, barro – construi a “moradia”, na realidade apenas
um rancho, que cosntava de duas partes: uma, os “quartos” para acomodar a
família; outra, a cozinha, com fogo de chão.
Carl teve o cuidado de construir o
rancho em local um pouco elevado, mesmo que mais afastado do riacho que por ali
passava. Um vizinho, achando muito prático e até romântico morar às margens do
arroio, foi surpreendido, em uma noite de muita chuva, pela água entrando no
rancho.
Assim que possível, a família veio
para junto de Carl. Foi então que tomaram posse de seus “domínios” e
enfrentaram a rude vida no mato.
Quando o tempo estava bom, era fogo
de chão, aceso no pátio e coberto com chapa de ferro, que Elise e, na ausência
da mãe, Erna cozinhavam. Para assar os primeiros pães que fez no Brasil, Elise
acendia fogo no chão e depois colocava a forma com a massa no local aquecido,
sob a chapa de ferro, cobrindo tudo com folhas.
As crianças precisavam de leite; pó
isso, Carl trocou sua única fatiota por uma vaca. Como suas mãos estavam
inchadas em decorrência do trabalho na roça, ao qual não estava acostumado,
Carl tinha guardado sua aliança no bolso do casaco. Na hora de entregar a
fatiota, não se lembrou disso – e a aliança se foi!
Nessa pequena propriedade, Carl
tentou plantar alguma coisa, sem muito sucesso. Faltava-lhe, como muitos
outros, o conhecimento da terra, das plantas e de como plantá-las. Ninguém dava
aos recém-chegados, uma orientação segura; cada um agia como acreditava ser
certo, e acontecia um eterno “começar da estaca zero”.
Além disso, a terra tinha que ser
paga. O pagamento, muitas vezes, era feito com trabalho nas estradas – pouco
mais do que picadas, quase sempre - , as quais eram abertas com picaretas,
foices e enxadas. Na maioria dos casos, as ligações entre as colônias e a sede
e entre as diferentes colônias eram feitas pelos colonos.
Voltando a Carl e Elise, é fácil
imaginar o estado de ânimo de ambos ao enfrentarem tantas dificuldades: o
isolamento, a terra inculta, a gente estranha, a falta do essencial em quase
tudo. O que os mantinha e movia era a esperança, para si e para os filhos, de
dias melhores do que a vida na Alemanha lhes propiciaria.
Foi em Ijuí, na cabana que abrigava a
família, que nasceu o sexto filho e o primeiro dos filhos brasileiros, batizado
Hermannn (1910), mais tarde Hermann adotou legalmente o nome Germano,
passageiro clandestino da grande viagem, como ele mesmo costuma dizer.
A família permaneceu pouco tempo em
Ijuí.
Quando Germano tinha oito semanas,
Elise foi até a Linha 8 Oeste, também em Ijuí, para fazer um parto. A viagem
foi a cavalo, levando o bebê, que ainda mamava. Houve engano nos cálculos, e o
parto só ocorreu seis semanas depois, mas Elise tinha de esperar que ele
acontecesse. Carl e os outros filhos ficaram na colônia. Erna, uma criança de
onze anos, tinha de fazer todas as lides domésticas.
Feito o parto, Elise e Germano
voltaram. Carl foi ao encontro deles, até uma “venda”. Lá encontraram dois
senhores ligados a Empresa Colonizadora de Neu-Württenberg. Germano foi
devidamente admirado por eles. Consta que, brincando, Carl lhes perguntou: “Não
estão querendo um bebê forte como este?” Ao que um dos senhores teria
respondido: “Não é exatamente de um bebê que precisamos, mas de uma parteira.”
Elise, entrando na conversa, disse: “Pois já encontraram!” E ali mesmo foi
acertado um contrato: Elise seria parteira nessa nova e florescente colônia!
A terra foi devolvida e mais uma
mudança aconteceu na vida da família!
Neu-Württenberg (Panambi)/RS
Em poema dedicado ao filho Germano
quando ele completou 40 anos, Elise assim escreveu:
“Nach
Neu-Württenberg wollten wir geh’n
Wir hatten
gehört dort sei es schön!
Es gabe dort
Schule und allerlei gutes
Darum gingen wir
frohen Mute.”
A existência de escola e de outras
“coisas boas” – igreja, clube, coral, por exemplo – fazia de Neu-Württenberg de
1910 uma localidade de nível cultural e social bem melhor que a Linha 23 Leste
de Ijuí.
Em Neu-Württenberg, a família morou,
nos primeiros tempos, em uma pequena chácara dentro dos limites da vila. Carl
trabalhava como carpinteiro, principalmente na construção de escolas nas novas
picadas da região. Elise, além das múltiplas tarefas de mãe e dona de casa,
assumiu suas funções de parteira contratada.
Algum tempo depois Carl adquiriu uma
área de terra de 25 hectares para agricultura, a três quilômetros da
sede, na qual já havia uma casa. Inicialmente toda a família se envolveu no
plantio. Mais tarde, uma olaria foi construída na propriedade.
Na “Kolonie”, como era chamada essa
propriedade, nasceram mais três filhos: Hedwig (1914) – a Hedi, Erika (1917) e
Willy (1921).
Em Neu-Württenberg aconteceram alguns
fatos importantes da vida familiar.
No dia 10 de novembro de 1923 foram
comemorados as Bodas de Prata do casal. Nesta mesma época, o casal Glufke
decidiu vender a propriedade. Havia vários razões: os filhos Waldemar e Alfred
já se dedicavam aos ofícios que haviam aprendido. Erna estava casada e Frida
estava noiva. E o principal motivo era que Carl e Elise desejavam outro tipo de
vida para si e para os filhos.
Quando Carl e Elise visitaram sua
terra natal, de 7 de maio a 24 de outubro de 1924, a Alemanha vivia o período
pós-inflação de 1923 e o dinheiro brasileiro tinha valor nos países europeus. Por
isso, o casal pôde viajar pela Alemanha, visitar parentes e até comprar
utensílios e objetos para a casa e pequenos presentes para os filhos. Quando
voltaram, uma grande mudança ocorreu na vida de toda a família Glufke.
Mudança para Porto Feliz (Mondaí)/SC
A Empresa Chapecó-Pepery Limitada,
colonizadora da região convidou Waldemar, o filho mais velho de Carl e Elise,
para estabelecer uma casa comercial em Porto Feliz, atual Mondaí, em Santa
Catarina. O estabelecimento destinava-se a prover mantimentos e utensílios
necessários aos pioneiros da localidade.
Waldemar incluiu seu pai como sócio
da casa comercial. Assim quando Karl e Elise voltaram da Alemanha, Karl foi
imediatamente a Porto Feliz, para assumir suas atividades no novo negócio e
providenciar casa para a família.
Em fevereiro de 1925, Carl, Elise e
os filhos Hedi, Erika e Willy foram morar em porto Feliz. Como muitos
pioneiros, antes e depois deles, viajaram no mesmo caminhão que levava a
mudança.
Os outros filhos de Carl e Elise
também foram morar em Porto Feliz, em momentos diferentes.
Os Glufke em Porto Feliz (Mondaí)/SC
Em Porto Feliz, atual Mondaí, que os
Glufke “criaram raízes”. Até hoje a localidade serve de referência na história
familiar. Apesar de alguns filhois terem casado antes da mudança para Porto
Feliz, pode-se dizer que foi de lá que filhos, netos e, recentemente, bisnetos de
Carl e Elise partiram para viver em outros lugares do Brasil. Estar em
Porto Feliz (ou Mondaí), durante muito tempo e para a maioria dos Glufke,
significava “estar em casa”.
Em 1926 nasceu o último filho do
casal: Hellmut. Os Glufke, como todos os pioneiros de Porto Feliz, enfrentavam
os problemas da melhor forma possível, sem se deixaram abater por eles. Cada um
no seu posto: na casa comercial, no transporte, nos trabalhos domésticos e
Elise como parteira.
No Natal de 1927, Carl Glufke adoeceu em
Porto Feliz. Apresentou melhoras e em janeiro de 1928 viajou a
Neu-Wüttenberg para consultar médico. Este constatou que Carl sofrera um leve
derrame cerebral, sem seqüelas e recomendou descanso. Ele ficou na casa da
filha Frieda em Neu-Wüttenberg, mas em fevereiro teve outro derrame e veio a
falecer no dia 7 de fevereiro de 1928. Seu corpo foi levado a Porto Feliz, para
lá ser enterrado.
Com a morte de Carl terminou uma
etapa decisiva na vida da família Glufke, incluindo a fase da vinda para o
Brasil, a fase de adaptação a um novo ambiente em terras no Rio Grande do Sul e
a fase de pioneirismo e estabelecimento em Porto Feliz.
Opa Glufke morreu antes de
concretizar totalmente o sonho que o trouxe ao Brasil: ver todos os filhos
encaminhados para uma vida melhor do que possivelmente teriam na Alemanha. A
afirmativa é feita considerando a época em que os fatos narrados aconteceram,
mas viu realizada uma parte desse sonho: tinha casa própria, sociedade em uma
casa comercial, filhos se afirmando profissionalmente. Além disso, a família
crescera: dos dez filhos, cinco estavam casados e já lhe haviam dado nove
netos.
Em 1932 a “grande família”
começou a se dispersar, no sentido de morar em lugares diferentes, para atender
interesses e necessidades individuais ou de cada nova família que se formava.
Assim em fevereiro de 1936, Elise se
mudou para Lajeado, junto com Willy e Hellmut. Em 1951, na residência de
Erna, em Porto Alegre, foi comemorado o “Jubileu de Ouro” de Elise
como parteira. Em seus cinqüenta anos de profissão, Elise ajudou a trazer ao
mundo quase 3000 crianças.
Em 10 de dezembro de 1962, Elise
faleceu em Lajeado e conforme seu desejo, lá foi sepultada.
Como em todas famílias, momentos de
alegria e de tristeza têm se sucedido na vida dos descendentes de Carl e Elise
Glufke. Os dois sonharam uma vida melhor para os filhos, os netos e para as
gerações futuras. Se a realidade nem sempre correspondeu totalmente ao sonho
dos que atravessaram o oceano em busca de uma vida melhor, é verdade que esta
“vida melhor” foi amplamente alcançada, à custa de trabalho constante e grandes
sacrifícios, mas também com muitas alegrias e muitas realizações.
É verdade, também, que seus
descendentes souberam honrar os ensinamentos do casal Carl e Elise, no sentido
de integridade de caráter e trabalho honesto na conquista de uma vida digna,
pacífica e saudável, baseada no esforço pessoal e preparo profissional. Cada um
a seu modo lutou para conquistar um lugar na comunidade em que vive e vive de
modo a preservar o lugar conquistado. Este é, talvez, o legado maior que eles
deixaram para seus descendentes.
Por tudo isso e pela coragem de
enfrentar o desconhecido “outro lado do mundo” no empenho de propiciar um
futuro mais promissor à sua família, Carl e Elise Glufke merecem admiração,
respeito e reconhecimento e, principalmente, merecem ser afetuosamente
lembrados por filhos, netos e bisnetos e pelos filhos, netos e bisnetos destes.
(Histórico familiar retirado do livro
“OS GLUFKE NO BRASIL – pequena crônica familiar” de Izabella Kertész, publicado
em 1998).
Nossa história!!! É muito bom saber de onde venho... graças a pessoas como a Bella, que nos deixaram a história e agora outros como o tio Gunar que mantém viva essa tradição... família... é muito bom!!! Cristiane A. S. W.
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